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TAMBÉM ANDO PERDIDO ESSES DIAS (2021)

"Como uma forma de se reconhecer, se entender, o primeiro instinto pode ser buscar um reflexo. Olhar para si de fora para dentro parece mais nítido, mais simples, do que de dentro para fora. Guilherme Freire se olhou no espelho e viu Vítor Ramos, tal qual vice e versa. Sendo um fotolivro que busca discutir questões existenciais, é uma estratégia inteligente partir da premissa de uma correspondência. Muitas vezes olhando o outro que nos vemos melhor. Criar diálogos é essencial para não ficar preso nos próprios monólogos internos.  

 

Os dois se perceberam em momentos parecidos. Ao se tornarem jovens adultos, a percepção de mundo e questões sobre existir nele ficam ainda mais latentes. Independente de vivências particulares, diferenças culturais e desafios enfrentados, é universal que todos começamos como crianças e em algum momento deixamos de ser. Isso inevitavelmente estabelece dúvidas a respeito de quem somos, o nosso papel e nossos desejos. Muitas vezes resultando em frustrações e confusões. Sem um mapa, a caça ao tesouro "de se encontrar" parece infundada. Uma bússola de nada serve se não sabemos para qual direção precisamos ir. O que tentam Guilherme e Vítor ao trocarem imagens de seu percurso é cobrir mais bases, marcar com um tecido amarrado o tronco de uma árvore para indicar: "Já passei por aqui, não é onde a resposta está", e desta forma evitar andar em círculos. 

 

As páginas pretas remetem ao escuro, a fotografia revela uma luz. Na expectativa de encontrar o fim do túnel, na verdade nos deparamos com fragmentos de imagens, como uma clareira que continua cercada por mato. O dia vai passando, e as imagens que a princípio foram realizadas com a luz do sol, se transformam ao anoitecer, quando passamos a enxergar apenas através do flash e pela luz do poste ali tão distante. Essa busca pela iluminação também aparece com as muitas figuras religiosas que pontuam a publicação em uma analogia bastante direta sobre tentativa de acreditar em algo. Crer que existe algo maior deixa a existência menos vazia. Por outro lado, torna-se um abismo quando não acreditamos em nada. A santa de gesso é muito fácil de se quebrar, é só questão de tempo até a imagem desbotada de Jesus esmaecer até deixar de existir. E então quando a trilha do místico não chega a lugar nenhum, o lado primitivo é o próximo a chamar. É curioso, mas não surpreende, como em fotografias tão urbanas - realizadas nas cidades de Fortaleza e Natal - o que tanto se repete é a presença da natureza. É como se houvesse uma identificação com aquelas plantas, que tentam se adequar ao ambiente que estão e por isso acabam se limitando, as raízes explodindo no asfalto, os galhos se enroscando em grade, os cipós se confundindo com o arame farpado. 

 

Pessimismo, talvez, mas parece realista. No final de tudo tem vários elementos, mas está tudo muito vazio. Não há resposta alguma, Guilherme e Vítor continuam perdidos na floresta existencial. O livro termina com uma pequena esperança, o nascer do sol traz um novo dia e oportunidade de novas descobertas."

Texto por Andressa Ce.

Ficha técnica:

Fotografias e textos | Guilherme Freire e Vitor Ramos
Edição | Guilherme Freire, Rafael Roncato e Vitor Casemiro
Projeto gráfico | Beatriz Matuck
Revisão de texto | Thayná Facó

 

Ano | 2021
Tamanho | 21 x 15,5 cm
Encadernação | Brochura
Páginas | 78 páginas
Tiragem | 200

Projeto destacado pelo júri - Prêmio Foto em Pauta 2021

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